terça-feira, 5 de maio de 2020

Crônica - Vila de Altos Barrancos

♣ Este é um conto que escrevi há muito, muito tempo numa das máquinas de escrever daqui de casa, preferi compartilhá-lo como imagem pra poder passar a sensação do papel e das marcas da máquina ( e também da gota de cera que caiu pela folha) ♣


Drop dead Party [oneshot]

* Este conto foi achado no meio de alguns papéis bem velhos, provavelmente do período de 2009 a 2010. Tentei manter aqui a fidelidade à versão manuscrita, então podem haver muitos erros! Hahaha. Boa leitura. *

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            Festa de fim de ano. Reunidos no salão haviam muitos amigos e conhecidos. O jantar já havia sido servido, no telão, fotos do ano que passou e, sentada na cadeira estava Michele. Junto dela estavam seus amigos Júlio, Rafael e Edward.
            Uma música contagiante começou a tocar logo depois dos discursos de pessoas importantes, fazendo muitos levantarem, mesmo os quatro amigos que não estavam com tanta vontade de dançar.
            Michele cruzou as pernas e, numa bela sincronia, Rafael olhou para elas no mesmo instante, ficando de queixo caído. Isso por que a menina usava um vestido preto que modelava seu corpo recém adquirido com a dieta que fizera durante todo o ano, e indo até quase o meio da coxa. Em seus pés uma sandália com salto muito alto, os cabelos meio presos e uma maquiagem penetrante nos olhos, deixando-a sensual como nunca vira antes. Nem ele, nem os outros dois e muito menos os demais convidados. Os olhos do garoto estavam vidrados, porém, um chamado para uma foto o fez retornar à realidade.
            Algum tempo depois, depois de salgadinhos e alguns copos de vodka, a jovem sentiu o quão quente estava dentro do salão e levantou-se, seguindo para a porta do fundo onde poderia tomar um ar fresco. Em seguida, um garoto de jeans, camisa de xadrez fino e cabelos castanhos se aproximou, tocando a mão da morena e entrelaçando seus dedos.
            - Oi Mi. O que faz aqui fora? – Virou-a de frente para si e sorriu.
            - Tomando um ar. - \ela sorriu de volta com seu bom humor característico.
            - Tá querendo seduzir quem com esse vestidinho de piriguete? -  Ela sorriu. – Só tem velhos, o Daniel e nós aqui. Hein?
            - E se eu não quiser seduzir ninguém? – Ela deu um passo a frente, os olhos vidrados no do garoto mais alto e um sorriso diferente no rosto.
            - Então deveria ter escolhido outra roupa. – Disse o garoto.
            - Sério? Por quê?
            A essa altura a mão de Rafael já repousava na cintura fina, seus corpos praticamente colados. Com os olhos brilhando de desejo, o coração batendo forte, a pele transpirando disfarçadamente, exalando todos os sinais químicos que somente os inconsciente de um homem emitindo os mesmos sinais poderia reconhecer. Só faltava a confirmação, esta não seria dada pela química, mas sim pela linguagem corporal minuciosa, sutil e exata.
            - Esse vestido provoca, por isso.
            - Quer dizer que esse vestido te provoca? – Ela inclinou a cabeça para o lado, deixando à mostra o pescoço sem adornos, dando ao outro a permissão de possuí-la da forma que quisesse. Então a consciência se foi, o tempo parou a música, o farfalhar das árvores e a voz das pessoas. Só uma palavra foi ouvida “É”. Foi a única coisa que ele disse antes de segurar o queixo suave e beijar os lábios finos.
            Poderia durar a eternidade se eles quisessem e, se houvesse mais alguém no local, poderia ver as faíscas de tal contato.
            Ela separou seus lábios deixando que a língua dele se enrolasse à sua numa dança quente, sensual e perigosa. Perguntando-se qual o perigo? A possibilidade de sua mãe, da mãe do garoto e das amigas verem. E qual o problema de algum deles ver? Ela não poderia mais dormir com a sua presença no mesmo cômodo. Rafael enroscou os dedos nos cabelos negros, intensificando o beijo e tento o corpo esbelto todo entregue em seus braços.
            Se separaram. Michele sorriu para ele e entrou novamente no salão abafado seguindo direto para a pista de dança. Cumprimentou os amigos e deixou-se se levar pelo som alto. Só saiu para pegar outro copo de vodka com gotas de limão e tomar um pouco de ar frio que entrava pelas janelas.
            Cerca de vinte minutos se passaram, m par de mãos robustas segurou firme o quadril da morena e jogou com ela na sincronia dos corpos embalados no ritmo sensual que a garota impunha. A cada grau que subiam na escala da sedução, os feromônios deixavam o garoto mais “bêbado” e ela ficava mais solta com o álcool correndo em suas veias. O mais alto testou o perfume que ela usava, aspirando-o desde a base do pescoço até os brincos em sua orelha, depositando ali um beijo suave que arrepiou a pele macia.
            Ela estava entregue, ignorando totalmente os olhos dos presentes e, ainda de costas, aconchegou sua mão nos cabelos cacheados do amigo, deixando que ele beijasse seu pescoço e subisse uma das mãos até o alto de suas costelas, onde ela ficava louca.
            Permaneceram nesse jogo grande parte da noite, até que as músicas ficaram desfavoráveis ao clima antes perfeito.  Então eles e os outros amigos foram se sentar à mesa para repor as energias e acalmar o coração. Ao contrário do que se pensa, os amantes não focaram trocando olhares cúmplices, mas sim emprestaram seu tempo aos amigos queridos.
            Os demais convidados já tinhas debandado, ou pelo menos boa parte delas. A festa estava acabando, o brinde já fora feito, era mais de meia noite e eles não se tocaram mais, até o momento em que ele deu a deixa para que se encontrassem do lado de fora na noite fria. Rafael puxou-a para perto de si, conduzindo-a até a parede mais próxima e pressionando seu corpo no dela. As mãos deslizavam pelas curvas praticamente esculturais, ultrapassando alguns limites do tecido preto, acariciando a pele suave e beijando os lábios com mais volúpia que antes. Ele interrompeu o ato antes que suas vontades sexuais sabotassem o cérebro e liberassem os instintos mais selvagens de um macho que caíra nas armadilhas envolventes da fêmea.
            No momento em que separaram os lábios Júlio surgiu pela porta próxima, chamou o amigo para que fossem embora e logo saiu de cena.
            - Minha carona chama. – Sorriu tenro e beslicou suavemente a bochecha rosada. – Tchau.
- Tchau. – Disse ela num tom manhoso, calmo e carinhoso com um biquinho nos lábios delicados.
Eles se abraçaram. A menina roubou um selinho e riu travessa.Ficou parada até o garoto alto desaparecer pela porta. Recostou-se na parede e, mordendo a articulação do indicador direito, riu com seus botões.
Depois de planejar por muitos meses Michele conseguiu o que há tanto sonhava: o beijo do garoto que mais balançara seu coração nos últimos dois anos.
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