quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Passeio na Praia

 Oilá!

Escrevi este conto em uma viagem que fiz com minha família, inclusive, o personagem com piercings é real, infelizmente, o resto não é! Kahah!
Já faz muitos anos isso, eu deveria ter uns 16, eu acho.

Aqui neste conto romântico temos dois garotos de idades semelhantes. 

Aproveitem a leitura!

------------------------

Estavam viajando há quatro dias. O último deles fora muito conturbado quanto ao trajeto. O mais novo do grupo estava terrivelmente cansado, embora tenha tirado seus cochilos constantes no carro, continuava cansado. 

O grupo parou numa pousada simplória e simpática. O garoto já conhecia aquela pousada. Se sua mente não o enganara, na sua última noite ali, esquecera a cueca no box do banheiro. 

Enquanto um dos mais velhos acertava as contas na recepção ( não, eles não estavam brigando), o segundo mais velho e ele seguiam o carregador até o quarto. 
Nosso protagonista nunca fora muito observador. Ainda mais quando estava ouvindo músicas em seus fones. O pobre quase teve, digamos, um ataque cardíaco ao ver o garoto que carregava suas malas. Apesar da mesma idade, era bem mais alto, com piercings no lábio, sobrancelha e orelhas. Os cabelos foram minuciosamente cortados na medida perfeita, deixando todo o couro totalmente a mostra. A pele alva como leite e com uma voz que despertara os sentidos de David. 

David tem perto de 1,70m, cabelos coloridos de preto e azul que lhe cobrem a nuca, exceto pelas coxas, seu corpo era comum, com olhos castanhos e uma doçura contagiante. 

Logo após sair do banho, ouviu batidas na porta. Gritou para que esperassem e colocou a primeira roupa que estava pelo caminho e atendeu. Sua garganta secou ao ver quem estava do outro lado do portal. Ficara sem reação, a única coisa que se fez em sua face, além da surpresa, foi um sorriso tímido. 

– Olá. –Disse ele. 

– Oi. Você, poderia sair para conversar? - Falou o outro com aparente inquietude. 

–Bem, acho que posso...- Virou-se para a mesinha perto da cama, que fica ao lado da porta, escreveu algumas palavras, colocou-o no bolso e fechou a porta atras de si. - Só me deixe entregar isto no outro quarto, para que não fiquem preocupados. 

– Está bem. - Mordeu o lábio ao brincar com seu piercing. O garoto estava visivelmente ansioso. 

Depois de passado o papel pela fresta da porta, os dois desceram as escadas da pousada e caminharam pelas ruas até a faixa de areia que se estendia ao longo da costa. 

O vento da noite soprava com força em direção ao mar. A praia estava deserta, como era de se esperar numa cidade como aquela. 

– Está deserta... 

– Isso é por causa do horário. Este também é um bairro muito afastado do centro da cidade. Aqui não é exatamente um ponto turístico, só uma passagem. - Explicou o outro. Seus olhos estavam fixos no horizonte brilhante. 

A água refletia a luz da lua cheia e as luzes amarelas das cidades ao redor da baía. O garoto tirou os sapatos, sentiu a areia gelada nas solas dos pés cansados e fechou os olhos. Caminhou por alguns metros e sentou sobre os cristais de rocha. 

Venha. - chamou o garoto sem cabelos. 

– Ah....- David sentiu o instinto de protecionismo tocar sua consciência. Sentar-se ali, com um desconhecido, no meio duma praia deserta...era dar chance para que qualquer coisa ruim lhe acontecesse. - Onde vamos? 

–Tem um rochedo aqui perto, tem uma vista linda de uma das ilhas próximas. – O garoto viu a expressão desconfiada no rosto do moreno, tentou encontrar palavras para confortá-lo, mas a esta altura, qualquer coisa que dissesse soaria suspeito. – Mas se você não quiser ir, tudo bem. Podemos voltar para a pousada. 

–Bem... - O mais baixo observou os olhos claros. Não pareciam ter nenhum sinal de malicia, ou instinto assassino. Talvez pudesse confiar nele. - Olharei seu penhasco ao nível do mar, depois decido se subo, ou se volto para meu quarto. Combinado? 

– Combinado. 

Então os dois seguiram pela praia. David molhava os pés constantemente na água gelada e salgada. Aquilo o deixava tão incrivelmente relaxado, que poderia deitar na areia a noite inteira. Foi caminhando com os olhos fechados, seguindo a voz doce do mais alto. Ele ficava cada vez mais tranquilo, mesmo na presença de um estranho. 

Nunca antes em suas viagens o moreno havia saído dos alojamentos, ainda mais durante a noite. A sensação de liberdade que uma atitude dessa lhe proporcionava era quase indescritível. Sentia-se dono de si. 

Ele ouviu os passos cessarem. 

– Chegamos. 

David abriu os olhos e viu uma formação rochosa que fechava a baia. Não era muito alta, não tinha muita vegetação, só grama e arbustos. Sentiu aquele medo instintivo alertar seus sentidos. Fitou os olhos claros do outro garoto. Continuava a ver a inocência neles. Decidiu-se então. 

– Estou curioso para saber como são essas ilhas. – Disse com um sorriso. 

– Venha então. Tem uma trilha que deixa tudo mais fácil. 

O garoto cheio de piercings seguiu na frente, embrenhando-se pelos arbustos, levou nosso protagonista até uma estreita trilha. Seguiram por ela. 

Ambos conversavam animadamente. O mais alto não conseguia tirar os olhos de David. 

– Mas então, como você veio trabalhar na pousada? 

– Meu tio se mudou pra cá há uns anos, as coisas na cidade natal dele não andavam boas. Logo depois veio minha mãe. Ela conheceu meu pai, ele sumiu no mar de alguma forma obscura e uns meses depois eu nasci. Agora quero ter minha independência financeira. 

– Nossa! Que história de novela! Ahahaha! – David tinha um belo sorriso. Mesmo ele não acreditando muito nisso. – Agora, quero saber coisas mais interessantes sobre você... 

–Coisas...interessantes? - O mais alto sentiu uma ponta de insegurança cutucar suas costelas. O que de interessante o outro queria saber? 

–É. Tipo, seu nome. Kahahaha! 

– Ah, é....certo... kehehe...Me chamo Carlos. - Disse com as faces coradas. Pra um garoto branquelo como ele, qualquer coisa aparecia. 

– Que nome legal. 

–Sim. 

De repente, um silencio constrangedor tomou conta da atmosfera. Carlos olhava para o chão enquanto caminhava e David observava a luz da lua refletir nas ondas. 

Como eram hipnotizantes. 

Sem perceber, David cambaleou para perto do outro. Seus braços se tocaram e ambos levaram um susto. Com um pulo, se afastaram. Encararam-se, e suas faces coraram ao mesmo tempo. Ambos sabiam o porquê de estarem ali. Desde o começo, eles sabiam. 

– Ops. Desculpe...- Carlos sorriu e viu o moreno se aproximar mais ainda de si. 

Era o momento. 

Buscou inconscientemente a nuca do mais baixo e passou a outra mão por baixo da camiseta. Segurou o mais baixo contra si. Qualquer hesitação arruinaria toda aquela caminhada e toda a força de vontade que procurou no fundo de seu coração para aplacar a timidez. Quando percebeu, suas roupas estavam sendo puxadas e amassadas pelo outro. Os corpos colados num beijo necessitado, ardente. Mas eles precisavam de ar. 

As respirações ofegantes se viam no vapor que escapava de suas bocas. A noite ficara fria e pouco aconchegante. Carlos tremeu e arrepiou-se. Não aguentaria ficar ali por muito tempo. As belas ilhas poderiam esperar. 

–Vamos para o meu quarto. Lá é quente. Tem cobertor. – David abraçou-o carinhosamente. 

Ok.. – Carlos corou novamente. Era mesmo um garoto muito tímido. Qualquer coisa fazia suas bochechas avermelharem. 

Então eles desceram cuidadosamente o monte de rochas. As mãos dadas para não escorregarem. 

Já era bem tarde, cerca de uma da manhã, as ruas estavam mais desertas que antes, o vento mais frio. Entrar na pousada seria um trabalho de ninjas, afinal, não poderiam fazer muito barulho e teriam que parecer o mais normal possível ao passar pelo tio adormecido na recepção. 

Carlos abriu a porta cuidadosamente. As dobradiças rangeram, como de costume. Verificou o estado dormente de seu tio sentado na cadeira de escritório com rodinhas enquanto passava, ainda com as mãos dadas as de David, subiu as escadas. Parou no meio do cruzamento de corredores. 

– O que foi? – Perguntou David.- Algum problema? 

–Eu - começou Carlos.- não me lembro onde fica seu quarto. Quando subi, eu, não reparei. Eu só, segui. Ah. Eu não sei o que eu segui! Droga! 

Hey, calma. –Riu o moreno.- Vem, te levo até lá. –Disse tomando a frente. Passou por uma porta, depois outra e virou para a esquerda. No final do corredor, na porta da esquerda, ficavam seus pertences. Tirou a chave do bolso, abriu-a, esperou que o mais alto passasse, espiou pelo corredor com atenção, percebendo todos os sons do ambiente e filtrando-os com cuidado para, depois, fechar a porta. 

Carlos aspirou o ar do quarto. Era incrível como que em poucas horas, o cheiro do moreno dominava suavemente cada parte daquele lugar. Sentiu um par de braços laçarem seu corpo e o cheiro se intensificou. Suas faces se avermelharam mais uma vez. 

– Não está mais com frio, Carlos? Seu rosto está vermelhinho... - riu – algum problema? 

– Sua culpa. – Entrelaçou suas mãos longas nas delicadas do moreno. 

– Certeza? – Soltou a cintura do mais alto e andou calmamente em direção à cama enquanto segurava a mão do outro. – Mas acho que a culpa foi sua, de me convidar para uma caminhada. – Sentou-se na borda, puxando o garoto para si. 

Eles selaram um beijo calmo. O tempo não existiria mais. Não naquela noite. Os lençóis no chão não teriam serventia, assim como os travesseiros. Eles só precisariam do colchão. Ou nem isso, talvez! Só queriam um ao outro. 

David sentiu algo quente em seu rosto e uma luz forte em seus olhos. O sol já estava nascendo e ele iria embora naquela manhã. Respirou fundo e observou o jeito como a luz iluminava o quarto: as sombras se alongavam, seccionadas pelas listras que a veneziana proporcionava, as paredes brancas refletindo um dourado que só aquela angulação do Sol, naquela época do ano, era possível. Um dourado que somente aquele determinado estado de espírito se tornava possível. 

Era felicidade. 

Enquanto o moreno devaneava, o mais alto se remexeu no colchão, abrindo os olhos devagar, para se acostumar com a claridade do novo dia. 

– Hmm – Agindo como um gato preguiçoso, Carlos ronronou e se espreguiçou. Esticando-se ao máximo. – Ahn..Bom dia. – Disse entre bocejos. 

– Bom dia...- David acariciou o rosto fino. – Dormiu bem? 

– Talvez... – O moreno fez uma careta indignada e o garoto riu. - Parece que um tornado passou e me torceu todo. Kahahaha 

– Foi você quem quis experimentar coisas diferentes. Hahaha. 

– Não vou comentar seu apetite sexual, ok? 

– Meu estômago também tem apetite. Tenho fome. 

– Hm. Pelo sol, eu diria que temos que descer rápido, se não suas tias vão embora e te deixam aqui. Se bem que, não seria nada ruim. 

– Haha, seu egoísta. 

David se levantou e rumou para o banheiro. Abriu o registro do chuveiro para a água esquentar enquanto pegava a toalha em cima duma cadeira. Colocou-se debaixo d’água, acompanhado pelo garoto cheio de piercings. Eles somente se lavaram, nada mais. Colocaram as roupas no corpo e na mala do moreno. Depois, desceram as escadas até uma área externa com piscina para tomar o café da manhã. Sentaram juntos numa mesa e comeram com calma. 

Cerca de meia hora depois, estavam todos no portão da pousada, prontos para partir e continuar a viagem. Carlos ajudou-os a colocar as malas no bagageiro do carro. Despediu-se do mais baixo com um olhar triste e observou o carro a se afastar na rua estreita e esburacada. 

Dentro do carro, David olhava discretamente para trás. Ele precisava ter certeza que o outro estava lá, mesmo que não quisesse ir embora naquela manhã. Mesmo que quisesse caminhar na praia e observar o mar daquele rochedo junto com o branquelo. 

O carro passou por um grande buraco que fez o moreno socar a bunda no banco traseiro. Ai então ele sentiu. Sentiu uma dor estranha em sua comissão traseira, e percebeu, que não fora somente Carlos que experimentara coisas diferentes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário